segunda-feira, 19 de outubro de 2009

A planície e o fugitivo

A silhueta disforme apontava no horizonte daquela planície estupidamente igualitária e sem fim. Não importava se fosse à frente ou atrás, o capim amarelado pairava sobre a terra com uma delicadeza ridícula. Ridícula até para mato. Pensava ter visto uma árvore alguns quilômetro antes, mas como a vista noturna pregava peças aos olhos confusos de um fugitivo da lei, mantinha o palpite sobre a vegetação uniforme sem fim. Desviou os olhos para o céu, confiante na estradinha de terra pela qual era guiado. A lua parecia esboçar um sorriso torto. Até os astros riam-se dele. Coçou a nuca, sentindo as unhas toscamente cortadas arranharem a pele suada. Também se admirou com as proporções que os cabelos tomaram desde que ingressara ao mundo das grades. Se não tivesse afazeres, fossem eles pessoais do tipo que não se usa comentar ou serviços prestados, durante o tempo que passara na prisão, talvez o tivesse percebido. Antes que retirasse a mão da nuca, apalpou as madeixas castanhas, voltando a mão ao cantil que trazia preso ao cinto com uma careta.
- Desgraçados sejam os oficiais da lei.
Murmurou como em um brinde solitário, onde se comemorava o simples fato de ter água. Poderia brindar a fuga, entretanto suas condições atuais também não eram as melhores. Guardou o cantil e continuou sua caminhada noite adentro, não mais interrompida pelos sórdidos pensamentos.

2 comentários:

Matheus Moreira Moraes disse...

irado
dava pra fazer uma história ;p

Filipe de Paiva disse...

Eu sou apaixonado por esse tipo de enredo. E, como o Matheus disse, dava pra fazer uma história. Parabéns. =D