sábado, 18 de março de 2017

LÍNGUA PORTUGUESA

minha palavra favorita
é AVÓS
veja bem! só depois de velhas
nos tornamos
o "gênero predominante"

FUNERAL

Em dia de funeral
burro vira cavalo.
A enxada ferruginosa
cava do solo vermelho
árido
figuras santas
milagres semi-presenciados
- a paróquia se levanta
ergue os braços
magros de verdades
louvando
em devoção.
O corpo
estirado
em paz carnal
os olhos
fechados
de segredos
os bolsos
vazios
de reais
- fartos de canhotos.
O padre
emotivo
lamenta tamanha perda
enquanto o coveiro
indiferente
cobre o belo caixão de terra
e o povo espera
ansioso
a ferramenta idosa
que a imagem de mais um burro enterra.

SOBRE PÉS E ABÓBORAS

Sempre andei depressa.
Aprendi a andar aos 10 meses
no meu aniversário de 1 ano, corria
hoje não corro:
ando a passos largos e velozes.
Aprendi com meu pai.
Quando criança
me ensinou a comer abóbora
"pra engrossar as pernas"
o que, na época, achei absurdo
e, sem razão plausível,
vetei o pobre vegetal da minha dieta.
Meu pai me ensinou o olhar fixo
as trajetórias bem definidas
usar o cinto de segurança.
Era ele quem me estendia a mão
quando criança
e caminhava veloz ao meu lado
(nunca entendi a razão
de andar devagar
por estar acompanhada de crianças).
Meu pai anda depressa
e assim me ensinou.
Mas foi minha mãe
quem me ensinou a olhar para os lados
e admirar a paisagem.

sexta-feira, 17 de março de 2017

WALK ON THE WILD SIDE

Minha poesia é catarse.
Traqueostomia.
Dentro de mim vive uma criatura monstruosa
e sussurra ao pé do meu ouvido
as ideias mais assustadoras.
Mecanicamente,
a mão traduz
o que a boca,
por orgulho,
se recusa dizer.

MELANCOLIA

a batalha diária
da pílula
rosada
versus garganta
seca
da lágrima
e da retina
do berro
e das cordas
vocais

o mundo
externo perfura
a alma como uma
adaga
derrama seu
veneno
na corrente sanguínea
e a boca
alheia
estanca o
sangramento

intoxicado
o mundo
interno arranha
as paredes da caixa
torácica
procura no escuro
por si mesmo
e não
se encontra
posto que já
não se

reconhece