sábado, 18 de março de 2017

FUNERAL

Em dia de funeral
burro vira cavalo.
A enxada ferruginosa
cava do solo vermelho
árido
figuras santas
milagres semi-presenciados
- a paróquia se levanta
ergue os braços
magros de verdades
louvando
em devoção.
O corpo
estirado
em paz carnal
os olhos
fechados
de segredos
os bolsos
vazios
de reais
- fartos de canhotos.
O padre
emotivo
lamenta tamanha perda
enquanto o coveiro
indiferente
cobre o belo caixão de terra
e o povo espera
ansioso
a ferramenta idosa
que a imagem de mais um burro enterra.

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