segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Placebo

Para mim você é placebo.
E eu sou seu brinquedinho experimental.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

A maré

Eles. Sopram mentiras aos seus ouvidos, te driblam, te contornam. Te controlam...

Digamos que as pessoas se liguem e formem apenas um ser. Absoluto, verdadeiro, absurdo. Talvez seja "Deus", para aqueles que acreditam em tais religiosidades. Para os que não acreditam, chamemos de "sociedade".
Ditam os padrões e o que deve ou não ser feito. Confundem o significado da "liberdade", assimilando à algo sujo, uma bagunça. Mas ei, não se esqueça que são um só. Para se manterem unidos, eles não podem acreditar na liberdade. São hipócritas. Pregam em discursos mal feitos ideais que jamais serão cumpridos. Eles sabem disso, mas a ilusão é sempre mais agradável aos olhos.
Unidos, é verdade. Até quando negam tal fato, bem sei eu do outro lado em meu mais profano realismo que não passa de uma desculpa para se unirem mais. Podem ter suas desavenças, mas sempre concordam em um ponto: devem ser perfeitamente normais. O que é normal? Ora essa, eles já são normais. Normal é aquele que segue os padrões cautelosamente aceitos pelo ser supremo do qual aqui tratamos.
Vários pensadores - os quais não critico, até admiro, meu problema é com o grande equívoco aqui tratado - pregaram sobre a paz. Ao meu ver, a paz deveria ser uma aceitação em massa que solucionaria os conflitos que tanto debatemos, entretanto ela é tratada como um meio de inclusão de indivíduos nessa atmosfera surreal.
A bem da verdade, é tudo uma bela porcaria. Ninguém é perfeito, ninguém é normal e não passamos de uma mentira bem contada. Afinal, se fosse o contrário, ninguém estaria disposto a seguir os parâmetros da normalidade. Manipuladores, te guiam como uma maré.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

A arte não se força.

Só isso. A arte não se força.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

A planície e o fugitivo

A silhueta disforme apontava no horizonte daquela planície estupidamente igualitária e sem fim. Não importava se fosse à frente ou atrás, o capim amarelado pairava sobre a terra com uma delicadeza ridícula. Ridícula até para mato. Pensava ter visto uma árvore alguns quilômetro antes, mas como a vista noturna pregava peças aos olhos confusos de um fugitivo da lei, mantinha o palpite sobre a vegetação uniforme sem fim. Desviou os olhos para o céu, confiante na estradinha de terra pela qual era guiado. A lua parecia esboçar um sorriso torto. Até os astros riam-se dele. Coçou a nuca, sentindo as unhas toscamente cortadas arranharem a pele suada. Também se admirou com as proporções que os cabelos tomaram desde que ingressara ao mundo das grades. Se não tivesse afazeres, fossem eles pessoais do tipo que não se usa comentar ou serviços prestados, durante o tempo que passara na prisão, talvez o tivesse percebido. Antes que retirasse a mão da nuca, apalpou as madeixas castanhas, voltando a mão ao cantil que trazia preso ao cinto com uma careta.
- Desgraçados sejam os oficiais da lei.
Murmurou como em um brinde solitário, onde se comemorava o simples fato de ter água. Poderia brindar a fuga, entretanto suas condições atuais também não eram as melhores. Guardou o cantil e continuou sua caminhada noite adentro, não mais interrompida pelos sórdidos pensamentos.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Interligados

IMUNDO
É o mundo
FELIZ
É o ignorante
CALAMIDADE
É comum à idade
TUDO
É relativo
NADA
É determinante
ADEUS
É uma palavra
DRAMA
É a reação
ENERGIA
É o movimento
MORTE
É uma sentença
FIM
É um mito

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Prazeroso sofrimento mudo

Tão suave o quanto sol no inverno
Tão remoto quanto o som de uma vitrola
Tão incrivelmente satisfatório

Percorre a mente
Cola nos lábios
Estagna no peito

Irritante, imaturo, inquieto
Boêmio sentimento enfatizado
Que arde, flagela e faz gritar

De carrasco se passou seu criador
Em tamanha tortura vos colocar
Que por mera piedade chamou de "amar"

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Poeta

Poeta é o ser vil que te persuade em frases prontas a amar incondicionalmente. Bem sabeis que se tratam os poetas da arte de amar e serem amados, mas não este Poeta. Forjando juras de amor, mares de desejos, promessas, ganhava ele musas indignas das palavras perfeitas que ele profanava aos quatro ventos. Sequer Poeta era digno de tais vocábulos, tão agradáveis aos ouvidos.
Fossem espontâneos ou por tempo refletidos, seus versos semeavam paixões e colhiam o mais profundo desapontamento. Há quem defenda que Poeta tinha muito amor à fornecer e uma única musa acabaria por desfalecer... Duvido. Poeta nunca foi capaz de amar. Fosse ele quem expusesse o contraste carnal e espiritual no papel, tão divino, tão esdrúxulo, era incapaz de sentir o que descrevia. Poeta é e sempre será um mistério, a meus olhos.
Poeta, tão imaculado, tão adorável... Poeta, tão incapaz, tão limitado.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

A vida é uma festa insana

A vida é uma festa insana.
Um show de horrores prazeroso
Onde apenas a mais estrondosa risada
Faz-se ouvir em turbulência.
Se aqueles cantaram feitos
Nada, hoje, passam
De efeitos alucinógenos
Que tocam os lábios em exuberância
E saem do sistema sutis,
Talvez sutis como chegaram.
Outros poucos dizem ter em mãos
Controle das curvas sinuosas
Trilhadas ao próprio caminho.
Besteira, rebato.
A vida é uma festa insana,
Imprevisível, interminável
Ao meu organismo insaciável.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Diziam adeus, mas sabiam que não seria a última vez

A respiração débil e irregular avançava contra o vidro da cabine telefônica formando breves aglomerações de vapor. Os olhos não mais cintilavam. Estavam mudos, perdidos. Os lábios avermelhados murmuravam frases incompletas, incoerentes. O peito apertava-lhe a alma. Ele, do outro lado da linha, arrancava-lhe o sentido.
Ela entrava em transe cada vez mais profundo. Ele perdia a paciência com sua estagnação. Ambos imaginavam até quando a ligação iria render, e ele mais do que ela temia um prolongamento. Certa voz feminina, até então inexistente, ecoou do outro lado da linha. Ela bateu o telefone.