quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Abri mão de ti

Joguei fora as fotos
Queimei os versos
Apaguei teu nome
Deixei a folha em branco.

Passou...

Já foi
Já era
Tarde demais
O tempo não espera.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Escrevo com os olhos

Com o perdão das palavras
E até mesmo do que agora sinto
Afirmo escrever com os olhos.

Sei que não amo
Sei que não quero
Sei que não faço
Sei que não espero.

Aqui neste peito
Bate um coração vazio
Que nada bombeia
Além do rubro sangue
Ainda corrente em minhas veias.

Portanto repito
Não sinto, apenas observo
E quem escreve observações
Escreve com os olhos.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Meu cubinho de gelo

Você é como um cubo de gelo.
Quando saído do refrigerador
Em forma de pedra
Se derrete nos meus braços
Como manteiga fria
Na panela quente.
Mas depois de derretido
É preciso ter cuidado
Pois se não refrigerado
Evapora e vai embora
Me deixando aqui
Na incerteza da sua volta.
Te queria em uma só fase
Nem pedra e nem água
Logo ali no zero grau
Parte rígido, parte amor
Porque sentimento enjoa
E indiferença afasta.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

De vez em quando

É no pouco caso
que vem o acaso
e a gente se encontra.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Então!

Sou frustração.
Um projeto inacabado
Perdido nesse mundinho fracassado

Sou contradição.
A voz da razão equivocada
No meio da multidão de frente pro nada

Sou introversão.
Uma mentira mal-contada
Encerrada entre risadas, bem como uma piada

Eu sou nada.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Sejamos sinceros...

A poesia contorna a sujeira da verdade e torna tudo mais agradável.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

O elixir da depravação

Perante as luzes foscas e coloridas que predominam durante o fim de noite, sejam elas vindas da chama de um isqueiro ou de um poste castigado pelo tempo, então refletidas na água turva de cor repugnante acumulada entre a calçada e o asfalto esburacado da rua, já sem forças para escoar para o bueiro mais próximo, tropeçam os bêbados que com frequência não vêem algum relevo em seu trajeto e esganiçam as mulheres já transfiguradas pela idade e profissão.
Alguns carros bonitos passam depressa, como uma breve ilustração ao cenário. Eles não querem ser parte daquele ambiente deteriorado, portanto... fogem. As "crianças" mais destemidas também costumam andar por ali, como uma aventura de fim de noite. Vão às gargalhadas, com copos vazios nas mãos e cigarros misteriosos entre os dedos finos. Simulam ser parte da sujeira local, mais uns poucos habitantes, mas bem sei que se amedrontam a cada sirene policial que toca ao fundo, soando como o sax em seu solo num jazz conhecido. Também não tardam a sumir de vista.
Alguns cães vadios se recostam nas portas de aço do comércio adormecido, pois já estão cansados de perseguir gatos, motos e até mesmo pessoas que enfim nada lhes têm a oferecer. Os gatos, agora em tranquilidade, perambulam pelos becos mais próximos e reviram todo o tipo de lixo a fim de encontrar algo digerível. Também há um grupo afastado que mia horas a fio na presença de uma fêmea no cio. Não são agradáveis, mas os transeuntes já se acostumaram àquele som terrivelmente irritante.
Alguns homens mal encarados e de aparência suspeita dão voltas no quarteirão com as mãos enterradas nos bolsos das jaquetas. Não é preciso especificar o que fazem ali... Mesmo que as respostas sejam diversas, são previsíveis.
Finalmente, o sol surge preguiçoso no horizonte. Aquele lugar não é o seu favorito, ele é generosamente estúpido pra gostar de depravação.