quinta-feira, 2 de junho de 2016

EPOPEIA

Decifra-me ou devoro-te!
- disse a Esfinge.
Corpo majestoso de leão
Asas inquietas
Olhos famulentos.
Não tenho o corpo de um leão.
Menino! Hoje tu és meu cardápio inteiro
No café, os teus cabelos
O almoço, tua língua
Não janto! Petisco avidamente a noite toda.
No entanto, é preciso cautela:
Tu és meio Medusa.
Um inocente relance, de súbito,
Transforma-me em pedra
- Bem sabes
Parte de mim já é rocha.
Menino! Tem pena de mim.
Romance inusitado
Entre Medusa e Esfinge:
Sejamos nós dois as nossas adversidades.
Matas Édipo antes que mate meu orgulho
Decapito Perseu antes que, sequer, cogite derrotar o titã.

Secretamente,
Devoro-te antes que me decifre.

Nenhum comentário: