domingo, 10 de setembro de 2017

PASSAGEIRO

O ato de fazer e desfazer
as malas nunca
é de fácil execução.
Entregamo-nos de bandeja à
obrigação de rever os
altos das prateleiras:
os convites de formatura
as cartas de amor
as fotos de um outro
tempo – fosse ele de alegria ou
tristeza.
O olhar para o passado é tão
apavorante o quanto a incerteza do
futuro.
Sinto o passado como uma
neblina que toca minha
face suavamente e embaça
meus olhos como as
lágrimas que um dia
chorei ao
partir e as outras tantas que
chorei enquanto permanecia.
...
Com outro suspiro cuja
duração não pude
conscientemente acompanhar
encerro a lírica
me desfaço de algumas roupas velhas
e, mais uma vez, guardo
os convites, as cartas, as fotos
nas mais altas prateleiras.

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