quinta-feira, 15 de junho de 2017

VINIL QUEBRADO

PARTE I

a adrenalina
entranhada
no desconhecido
a excitação
do primeiro
toque
o descobrir
da pele
o êxtase
da língua
molhada

a porta abriu
o telefone tocou
o beijo acabou: afogado em culpa

PARTE II

O espírito carnavalesco
em descompasso com o calendário:
as datas comemorativas
dificilmente acompanham
os sentidos do corpo
humano.
Descidas de ladeira
pilares de viadutos
ressaca dos olhares
uma cama de solteiro
desarrumada.
Bêbados arruaceiros
dançam ao som vermelho
de Caetano Veloso...
Enquanto o cotidiano
carregou nas costas
o riso de um bêbado,
a folia dos carnavais
levou consigo
as migalhas
do outro pobre
embriagado.

PARTE III

a poesia frouxa
encontrou certezas
alheias
e dissimulou
concordar
pois queria os
adjetivos difíceis
riscando suas
folhas de papel
em branco

um oceano de cabelos
escuros como o universo
deve ser durante a
noite invadiu meu
quarto quando eu estava
com frio e chovia lá fora
citando Drummond e outros
autores que eu não gostava
naqueles dias recitou meia
dúzia de poesias e uma dúzia de
problemas vislumbrou minha
figura e eu questionei meu
reflexo

entregou páginas
amareladas envoltas por couro
preto ao espírito torto do
poeta boêmio e depois cruzou
o oceano de águas azuis

PARTE IV

no topo de uma pilha de
sujeira e arrependimentos
eu te via bater as asas em
círculos mas você decidiu fazer uma

faxina

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